(Baseado no capítulo 14 do livro “Seja Feliz para Sempre!”)

Introdução

Após o capítulo 13 atacar genericamente a chamada “religião falsa”, o capítulo 14 dá continuidade à construção de um sistema exclusivo de crença, agora focando na definição do que seria a “adoração verdadeira”. De forma implícita, mas eficaz, o capítulo traça uma distinção nítida entre o que é aceitável ou não diante de Deus — usando critérios cuidadosamente moldados para validar apenas a forma de adoração praticada pelas Testemunhas de Jeová, embora o nome da organização ainda não seja mencionado explicitamente como “a religião verdadeira”.


1. Livre de Tradições Humanas? Nem Tanto

O capítulo começa definindo a adoração verdadeira como algo que deve estar livre de tradições e ensinos humanos. A ideia é simples e atraente: para agradar a Deus, seria necessário retornar à fé “pura” e original, sem interferências culturais, filosóficas ou institucionais humanas. No entanto, ao apresentar esse critério, o texto ignora — ou omite — que as próprias Testemunhas de Jeová desenvolveram, ao longo de mais de um século, um dos sistemas doutrinários mais complexos e centralizados entre os grupos cristãos modernos.

A ironia, nesse caso, é inevitável: as Testemunhas de Jeová são uma das organizações religiosas que mais produz conteúdo interpretativo próprio, abrangendo praticamente todos os meios de comunicação imagináveis:

Essa avalanche de conteúdo não apenas interpreta a Bíblia de maneira específica — como qualquer tradição religiosa faz —, mas estabelece uma estrutura rígida de interpretação única e obrigatória. Os membros são ensinados, desde cedo, que esse material é o “alimento espiritual fornecido por Jeová através de seu canal de comunicação visível”, o Corpo Governante. Questionar qualquer parte desse conteúdo é visto como sinal de orgulho, rebeldia ou até apostasia — termos que carregam forte peso social e espiritual dentro da comunidade.

Além disso, há um sistema tácito, mas firme, de imposição do uso exclusivo dessas publicações: